A terapia chegou até a mim de forma espontânea, rápida e insistente e posso afirmar que foi uma das melhores experiências da minha vida.
Há quase 20 anos, sofria de vulvodínia e tinha muita dificuldade em ter relações sexuais sem dor, medo e/ou tensão. O início da vida sexual tinha sido tranquilo, sentia prazer facilmente e os orgasmos eram intensos e frequentes. Entretanto, um pouco antes de me casar, comecei a apresentar os primeiros sinais dessa doença, manifestada em mim na forma de fragilidade da mucosa e com pequenas lacerações na entrada da vagina, que me causavam uma dor aguda na hora da penetração. Na época, não se tinha muito conhecimento a respeito das causas, o que dificultava o correto diagnóstico e o tratamento efetivo.
Fui em busca de muitos médicos e diversos tratamentos, mas nenhum me trouxe de volta o prazer de ter uma relação sexual satisfatória. Nesse período, passei por várias fases que se alternaram entre tristeza, raiva, resignação, indignação, esperança, decepção, aceitação… Por muitas vezes, pensei que nunca mais seria uma mulher de verdade, não tinha vontade de ser desejada e, devido à educação extremamente repressora e religiosa que tive, cheguei a imaginar que talvez o sexo para mim servisse apenas para procriação ou que estivesse recebendo algum tipo de castigo divino por algo que eu poderia feito.
Há aproximadamente 7 anos, voltei à fase da esperança e mais uma vez fui em busca de uma nova alternativa. Encontrei uma médica que finalmente me deu um diagnóstico correto e afirmou categoricamente o que eu sempre suspeitei: o meu problema era físico, causado por uma doença autoimune. Porém, a boa notícia ainda estava por vir: a melhora seria muito rápida. Só que eu sabia que, após tantos anos, a limitação não era mais só física, eu precisava de um suporte emocional. Depois de tantos anos convivendo com essa doença, eu tinha criado entre mim e o meu marido uma barreira quase intransponível: a do MEDO. Eu precisava vencê-lo de alguma forma e retomar a nossa conexão, mas ainda não sabia como.
De fato, o sexo melhorou bastante com o tratamento da mucosa e quase não apresentava mais lacerações; no entanto, o temor de voltar a sentir uma dor tão intensa me deixava apreensiva e me fazia usar sempre cremes anestésicos. Além disso, não conseguia relaxar nem atingir o orgasmo via penetração vaginal. Na verdade, o sexo já não era mais tão bom quanto antes.
Há quase 2 anos, por meio de uma consulta de tarô com um psicólogo junguiano, entramos na área da sexualidade. De acordo com a última carta, que acessava o inconsciente, havia a possibilidade de um grande desenvolvimento sexual. Guardei a informação, mas não conseguia imaginar como eu conseguiria esse desenvolvimento dentro do meu casamento. Continuei como estava e não fui em busca de outras soluções, por desconhecê-las e por estar focada naquele momento em outras questões emocionais mais urgentes, na terapia convencional.
Alguns meses depois do término dessa terapia e sem que eu fizesse nenhum esforço, o tema do Tantra apareceu para mim repentinamente na mesma semana, por meio de três pessoas diferentes, desconhecidas entre si, que me trouxeram informações e possibilidades de tratamento que ele poderia proporcionar e que eu jamais ouvira falar. Imediatamente me lembrei dessa área da minha vida que estava negligenciada e vi que ali surgia a chance de buscar um caminho completamente diferente das terapias comuns.
Uma dessas pessoas me falou sobre o Leandro e, sem pensar muito (pois se pensasse iria desistir), marquei no impulso uma sessão com ele, sem muita conversa prévia. Adiei um projeto pessoal em andamento e decidi focar todas as minhas atenções nesse tratamento. Estava disposta a mergulhar profundamente nesse caminho e seguir fielmente o que me fosse recomendado. Logo que nos conhecemos, senti que seria uma terapia intensa e profunda, mas não tinha a menor ideia de como ela seria.
Na primeira sessão, tivemos uma longa conversa antes da parte corporal, o que me deixou mais calma para administrar os sentimentos de CULPA, VERGONHA e MEDO. Iniciamos a sessão e me recobri com um pano, que era passado na minha pele e que me gerou arrepios maravilhosos. Lentamente esse pano foi retirado e continuamos no nosso processo de massagem corporal. Tive muitos formigamentos, pressão no peito e na região pélvica durante a sessão. Dentro das minhas limitações de culpa, vergonha e medo, me entreguei o máximo que pude naquele momento e me permiti SENTIR. Eu só queria sentir, sentir na maior intensidade possível o que tivesse que sentir. Perdi a fome, perdi a noção do tempo e saí da sessão completamente atordoada. Achei tudo surreal e completamente fora dos padrões conhecidos e fiquei muito curiosa para seguir adiante.
Nos primeiros dias após essa sessão, tive grandes arrepios no corpo, que duraram o dia inteiro, e me senti mais amorosa comigo e com o mundo. O curioso é que as pessoas pareciam sentir isso também, recebi mais sorrisos, mais gentilezas, mais olhares quando andava na rua. Depois de alguns dias, vi-me muito mais disposta a vencer a vergonha e o medo e, ao contrário do que imaginava, não senti culpa por ter permitido que outro homem me visse nua e me tocasse. Procurei internalizar que era apenas um tratamento com um terapeuta, que tinha uma abordagem diferente.
Na segunda sessão, quando estávamos quase terminando a massagem, tive uma ejaculação tão intensa, tão gostosa, tão inesperada, que cheguei a me assustar. Nunca imaginei que o meu corpo teria força para reagir assim… Fiquei anestesiada com essa experiência durante dias seguidos, mas sem calafrios, como na primeira sessão. Senti a minha energia vital aumentar e passei a ter alteração no sono, com períodos de insônia ou acordando bem mais cedo do que o usual.
Nos intervalos entre as sessões, tive a impressão de que o “processamento” dos sentimentos, sensações, reações corporais era até mais profundo do que a sessão em si. Fazendo uma analogia, eu diria que a sessão era uma ferramenta, mas a execução do trabalho pesado era feita nesse período, por meio das reflexões, insights, espasmos involuntários, orgasmos potencializados e sonhos impactantes e cheios de significados. Percebi também que no processo da terapia com o Leandro, ao contrário do que supus, não ficamos apenas restritos às questões sexuais. A viagem para dentro é muito mais profunda. Nesse tempo, muitas fichas caíram, até questões emocionais com a minha mãe que já haviam sido bem trabalhadas na terapia convencional foram compreendidas ainda mais.
A terceira sessão foi muito importante para mim, pois foi quando trabalhamos de forma mais intensa o bloqueio do medo, que aparecia na hora da penetração. Depois dessa sessão, o meu olhar mudou. Não via mais o sexo com o semblante da dor. Além disso, me sentia mais ainda mulher e finalmente entendi o que o Leandro falava sobre o despertar da deusa que havia em mim. Sim, eu me senti uma deusa e, de certa forma, percebi que isso se refletiu no exterior, sem nenhum empenho da minha parte. Senti-me mais desejada, mesmo não tendo mudado nada na minha aparência nem no modo de me vestir.
Nesse processo, histórias de abusos sexuais sofridos foram trazidos à tona com certa dificuldade, pois, até então, eu achava que eles não tinham relação com a minha condição. Atribuía o meu bloqueio muito mais à pressão psicológica sofrida para não engravidar, feita pela minha mãe. O Leandro insistiu nesse ponto e, somente na quarta sessão, um turbilhão de lembranças e sentimentos de abuso foram devidamente trazidos para a consciência. O período após a sessão dessa vez foi bem difícil, mas ao mesmo tempo eu sabia que precisava sentir tudo aquilo e que, do outro lado, eu encontraria a cura que buscava.
A quinta sessão foi realizada sem nenhum toque no corpo. Usamos somente a energia das mãos e mais uma vez trabalhamos outros bloqueios emocionais de origem familiar, como a inveja, o ciúme e a culpa. Depois dessa sessão, eu que já vinha caminhando lentamente para me livrar da culpa por estar bem e por me sentir mais forte e equilibrada do que a minha família, dei passos largos nessa direção. De repente passei a me sentir mais conectada comigo mesma, mais feliz, mais completa, ainda que as pessoas ao meu redor não estivessem na mesma sintonia.
As penúltimas sessões foram leves, prazerosas, com orgasmos cada vez mais intensos, com mais energia, conexão e amorosidade. Nos intervalos entre elas, o meu estado era de permanente felicidade e eu me sentia naturalmente cada vez mais sedutora. Os espasmos involuntários, que eu sentia durante as sessões, passaram a ocorrer depois delas também. Ficaram fortes, a ponto de me fazerem acordar assustada, com a região peitoral sendo levantada abruptamente, sem a minha vontade própria.
O padrão de sexo com o meu marido também mudou. Passei a querer um sexo mais leve, natural, sem pressa, vivendo o momento e aproveitando mais o beijo, o toque, o cheiro, como se fosse o último. E sem o peso do pecado ou da punição, que estavam entranhados em mim desde a infância. Experimentamos também não usar o creme anestésico, para que o contato pele com pele fosse melhor sentido e facilitasse o orgasmo. Não houve nenhuma dor, nenhuma tensão, nenhum medo, nenhuma laceração. Consegui sentir prazer, como há muitos anos não sentia. Sei que após tanto tempo repelindo meu marido, mesmo sem querer, e me escondendo para não lhe despertar nenhum desejo, o resgate da conexão e a reconstrução da intimidade serão graduais, mas penso que pode ser apenas uma questão de tempo para nos reconectarmos de verdade. Hoje eu não tenho pressa, já não me escondo, já gosto de me sentir desejada. Acho que já posso voltar a dizer o que dizia antigamente sobre o sexo: é lindo! E que o momento da penetração simboliza com perfeição a união entre um homem e uma mulher. Para mim, é quase uma poesia…
Durante todo esse processo, eu sonhei muito e muitos desses sonhos me trouxeram respostas para os meus próprios questionamentos ou conflitos internos, porém, o último deles, sonhado 3 dias após a última sessão, foi o mais bonito e o mais diferente de todos. Um passarinho azul saía de dentro da minha cabeça e voava para o alto, batendo com força as suas asas, o que me fez acordar e abrir os olhos. Só que mesmo acordando e com os olhos bem abertos, o pássaro não foi embora. Ele ainda batia as asas e eu ainda ouvia o forte barulho delas. Continuou a voar com desenvoltura e eu acompanhei o seu voo para longe. Era como se o passarinho estivesse verdadeiramente materializado, sendo possível tocá-lo com as mãos. O significado desse sonho? Sinceramente eu não sei, mas certamente arriscaria o palpite mais óbvio: liberdade. Liberdade para ser quem eu sou e liberdade para usufruir de toda a energia sexual adormecida, mas que agora está desperta.
Com amor.
MC
