Então, geralmente quando eu saio da sessão eu dou uma volta… E demora mais ou menos uma hora até eu finalmente vir para casa. E ontem não foi diferente, mas dessa vez eu sabia o porquê de eu estar dando a volta.
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Leandro, eu acho que pela primeira vez eu fui tocada em minha alma e senti meu coração bater. Foi a sessão mais dolorida e sofrida, e foi a melhor de todas. Quando eu cheguei à primeira sessão, eu estava tão “preocupada” em ter prazer e em melhorar minha vida sexual, que não me atentei para o resto. Mas a partir da segunda eu já estava mergulhada nos meus processos, tentando descobrir o que de tão grave havia acontecido comigo, meus traumas e os porquês. Eu queria tanto a resposta pontual. Queria tanto chegar ao ponto e falar: é isso! Para poder perdoar e seguir… Doce ilusão. Eu achei que seria tão fácil, mas foi tão diferente… ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
O que existia em mim, inconscientemente, era uma voz tatuada em minha alma que dizia “ponha-se no seu lugar”. O que existia era uma escravidão ainda latente que não permitia que eu ocupasse um lugar que não seria meu. E qual seria o meu lugar? Por que tanto não merecimento? Quem fez isso?
Ninguém. Eu fui subjugada por simplesmente ser quem eu sou. Por ter a cor que eu tenho. Sou resultado de uma sociedade escravocrata onde o negro não tem valor. Onde quem “merece” é o homem branco. E eles realmente acreditam nisso. E eu também acreditava, mesmo sem ter consciência. Mesmo negando.
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Eu sou resultado de uma sociedade onde uma bisavó não sabia ler nem escrever, mas a outra era muito elegante e tocava até piano, por não aceitar ser posta no “lugar dela”. E agora sei que eu a estou seguindo. Eu não aceito ser posta nesse lugar. Mas é esse o lugar que querem que as mulheres negras continuem ocupando. Não precisou ser dito por ninguém. Não precisou ser mostrado por ninguém. Mas estava lá, gravado em minha alma. E é daí que vinha o não entender e a culpa que eu carregava por ocupar um lugar que não é meu. Vinha o sentimento de não merecimento imposto. Que me trazia a vontade de fuga constante, para me esconder por estar fazendo algo errado. Mas qual seria o erro? O erro era viver… O erro era ser feliz… O erro era ocupar espaços e mostrar o quão capaz eu sou. Porém o erro, na verdade, era achar que não mereço por ser quem eu sou. Sabe… Alguns devem olhar para mim e pensar “Mas que petulante, essa negra.” E antes eu me envergonharia disso. Mas, agora, que se engasguem, ou engulam, ou se rasguem! Porque eu apaguei a voz! E mereço e ocupo o lugar onde eu quero estar!
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Muito obrigada! Meu coração está batendo!
