Minha essência.

O sexo foi apresentado a mim quando eu tinha 11 anos, pelo meu padrasto — um homem que eu amava como pai e que em teoria devia me amar como filha. Mas essa violação não aconteceu apenas uma vez. Ele se aproveitou da posição que ele ocupava na minha vida, na minha casa, e fez as suas vontades por muito tempo, por tantas vezes que eu não saberia precisar. Eu só sei que no começo eu sentia muito medo, e não entendia muito bem o que estava acontecendo. Depois que o entendimento veio, a certeza que eu tinha de não poder dizer “não” para ele me fez apenas “aceitar” a situação.

Alguns anos passaram e, quando eu tinha 14 anos, minha mãe flagrou meu padrasto me olhando dormir, mas não quis escutar os detalhes que eu tentei contar para ela sobre os abusos. E a partir daí eu me senti tão sufocada que fugir para outro estado com um garoto de quem eu nem gostava apenas para tentar acabar com aquilo. Mas nós fomos descobertos, e eu precisei voltar para o meu inferno pessoal.

Os abusos continuaram. E eu fiquei grávida do meu padrasto. Ameacei fugir novamente e minha mãe finalmente me escutou e o expulsou de casa.

Ainda adolescente, conversando com amigas, eu nunca entendia por que elas gostavam tanto de sexo. Eu me lembro de bem de sempre falar a mesma coisa: eu sinto só dor e agonia. Para mim sexo era isso, e não poderia ser diferente.

Aos 17 anos eu conheci um cara que eu amei muito. Eu achava que tinha descoberto o sexo: eu comecei a sentir um prazer que não tinha sentido antes, mas as dinâmicas sempre eram vinculadas à dor física e a fantasias totalmente superficiais e depreciativas, mas na época era um novo mundo e isso era melhor que a agonia que eu sentia antes.

Eu deixei na mão desse homem o poder de decidir tudo na minha vida. Ele determinava desde o tamanho das calcinhas que eu podia usar até o curso de graduação que eu podia fazer. Eu vivia em função dele e da filha que tivemos juntos.

Hoje eu sei que estava em um relacionamento abusivo, mas na época esse era o único caminho que eu conhecia. E quanto mais eu sedia, mais ele exigia, e eu passei a ser apenas uma sombra de mim mesma. A essa altura eu já questionava a forma que fazíamos sexo e chorava várias vezes sozinha no banheiro, me perguntando se um relacionamento tinha que ser daquela forma. Isso tudo acabou com uma síndrome do pânico que foi o divisor de águas da minha vida: eu decidi que eu precisava mudar.

Eu me separei e fiquei 2 anos longe de qualquer contato sexual. Eu procurava saber quem eu era em meio a tanta lama de traumas que me sufocava por anos. Nesse tempo, as crises de adenomiose, que sempre me acompanharam junto com muita dor e hemorragias, se intensificaram, e eu tive um cisto rompido em um de meus ovários e tiver que ser submetida a uma cirurgia de emergência.

Bom, eu sobrevivi.

Um dia, em 2018, eu estava navegando no Instagram e vi o perfil do Leandro. Eu já tinha escutado falar de tantra e tive curiosidade de me aprofundar, mas tinha deixado para depois. Resolvi mandar uma mensagem para ele só para pedir uma sugestão de um livro e aproveitei para tirar dúvidas sobre tudo. Ele, sendo um Ser de muita luz, teve toda a paciência em me explicar tudo e, além de tirar todas as dúvidas, me encorajou a falar sobre as partes mais dolorosas que eu teimava em camuflar, achando que fingir que não aconteceram seria a melhor das opções. Com o tempo, já em terapia, ele me ajudou a transformar a vergonha que eu sentia da minha história em gratidão, porque através dela me tornei quem eu sou hoje.

Bom, tentando explicar com palavras, na terapia foi a primeira vez que eu me senti energia de verdade. Eu estava sendo minha essência. Eu não fazia ideia do meu potencial, até descobrir através do tantra que o toque é curativo. Que nossa energia sexual é vida, é expandir…

Eu nunca mais me olhei no espelho da mesma forma depois que senti e vivi as experiências da terapia. Hoje eu sei onde posso chegar através da minha energia. Sei que sou um universo de possibilidades. Sei que eu posso sentir prazer sem dor. Sei que eu estou conectada com minha essência. Por fim, eu sei que eu não sou o que me aconteceu comigo, e sim o que decido fazer a respeito disso. Gratidão ao Leandro por ter me ajudado a enxergar isso.

Girassol.