Arrogância como fuga da insegurança?

Eu nunca conheci alguém muito arrogante que, quando me aproximei, não tenha apresentado uma insegurança fora do comum. Parece-me, inclusive, que a arrogância é diretamente proporcional à insegurança não aceita — como uma defesa contra aquilo que ainda é sombrio e está vinculado a algo de insegurança, de fragilidade temida ou de fraqueza mesmo.

Não é novidade que nós humanos temos a infantil mania de correr em direção a um extremo para tentar fugir da ameaça que se encontra no outro polo. Assim, por exemplo, aquele homem com medo angustiante da impotência — seja na vida ou na cama —, por não enfrentar essa possibilidade de impotência, corre desesperadamente para construir uma persona de superpotente. E muitas vezes ele se apega tanto a essa persona, que, além de convencer os outros, ele se convence de que realmente não existe impotência alguma em si. Torna-se, portanto, uma referência de superpotência. Carrega uma bandeira, quer liderar, precisa falar sobre isso o tempo todo, como uma criança que coleciona troféus, conquistas, brinquedos, números…

Porém, quanto mais tentamos reprimir o que é de nossa natureza, mais o lado reprimido nos ameaça. Ou seja, o superpotente sente cada vez mais a ameaça da impotência. Mas, com toda imaturidade que esconde em sua arrogância, ele chega à conclusão de que precisa, para vencer essa ameaça, de ainda mais superpotência. E mais. E mais. E mais. Até que a impotência, dos confins do submundo reprimido do inconsciente, ganha energia suficiente e toma conta de forma destrutiva da vida toda que ele tentar controlar com sua persona.

Por não a aceitar, ele se torna a própria impotência. Seja na vida, na cama, na saúde, no trabalho ou nas relações…

Lembre-se: nosso objetivo não é ser perfeito, é ser inteiro. E arrogância alguma fará você escapar do seu destino de integrar suas sombras — ou de ser destruído por elas pelo caminho de teimosa negação.

Ps: este texto não é exclusivo para os homens. Cada um que olhe para si.

Leandro Scapellato

O que vale NÃO é a intenção.

Eu não estou falando de presentes, surpresas ou tentativas na vida que devem ser reconhecidas em seus esforços verdadeiros. Eu estou falando sobre precisarmos ter, como adultos, responsabilidade sobre nossas ações.

“Mas o que eu quis dizer não foi o que eu disse…”

“O que eu queria mesmo era fazer aquilo…”

“Você não entende minha intenção!”

Se você usa a “intenção” como carta coringa para não lidar com suas falhas, principalmente as que, já conscientes, se repetem livremente, machucando repetidamente as pessoas ao seu redor, talvez seja interessante se questionar se essa não é apenas uma forma de fugir do que você sente quando se vê errando novamente — culpa, angústia, tristeza — e de fugir da necessidade de lidar com a consciência da dor do outro, causada ou potencializada pela sua falha.

Não é que sua intenção não seja importante… Ela é importante para você, em sua terapia por exemplo, para que você perceba o quanto ela está distante daquilo que você faz. Como uma referência para um trabalho interno. Mas você não pode e não deve exigir que as pessoas machucadas pelas suas ações simplesmente deixem de sofrer ou expressar seus sofrimentos porque sua intenção, mais uma vez, não era essa.

Ter uma intenção boa não transforma você em “café com leite” na vida.

Compreenda: o seu desejo e a sua ação precisam estar minimamente alinhados. Caso não estejam, estamos falando de ações inconscientes — guiadas talvez por algum complexo —, que tendem a repetir os antigos padrões, que muitas vezes contradizem o desejo atual.

É preciso se responsabilizar, reconhecer sem justificativas, compreender… Isso não nos tira força, como nossa infantil fantasia tenta nos convencer. Isso nos dá força, porque o que é adulto nos faz crescer. Com essa força, podemos confrontar nossas sombras, desenergizá-las, oferecer um quarto saudável para elas em nossa casa e, por fim, encontrar um caminho diferente, onde as ações e os desejos não estejam tão diferentes assim um do outro.

Afinal, como diz o clichê: “de boas intenções o inferno está cheio”.

Leandro Scapellato