O que vale NÃO é a intenção.

Eu não estou falando de presentes, surpresas ou tentativas na vida que devem ser reconhecidas em seus esforços verdadeiros. Eu estou falando sobre precisarmos ter, como adultos, responsabilidade sobre nossas ações.

“Mas o que eu quis dizer não foi o que eu disse…”

“O que eu queria mesmo era fazer aquilo…”

“Você não entende minha intenção!”

Se você usa a “intenção” como carta coringa para não lidar com suas falhas, principalmente as que, já conscientes, se repetem livremente, machucando repetidamente as pessoas ao seu redor, talvez seja interessante se questionar se essa não é apenas uma forma de fugir do que você sente quando se vê errando novamente — culpa, angústia, tristeza — e de fugir da necessidade de lidar com a consciência da dor do outro, causada ou potencializada pela sua falha.

Não é que sua intenção não seja importante… Ela é importante para você, em sua terapia por exemplo, para que você perceba o quanto ela está distante daquilo que você faz. Como uma referência para um trabalho interno. Mas você não pode e não deve exigir que as pessoas machucadas pelas suas ações simplesmente deixem de sofrer ou expressar seus sofrimentos porque sua intenção, mais uma vez, não era essa.

Ter uma intenção boa não transforma você em “café com leite” na vida.

Compreenda: o seu desejo e a sua ação precisam estar minimamente alinhados. Caso não estejam, estamos falando de ações inconscientes — guiadas talvez por algum complexo —, que tendem a repetir os antigos padrões, que muitas vezes contradizem o desejo atual.

É preciso se responsabilizar, reconhecer sem justificativas, compreender… Isso não nos tira força, como nossa infantil fantasia tenta nos convencer. Isso nos dá força, porque o que é adulto nos faz crescer. Com essa força, podemos confrontar nossas sombras, desenergizá-las, oferecer um quarto saudável para elas em nossa casa e, por fim, encontrar um caminho diferente, onde as ações e os desejos não estejam tão diferentes assim um do outro.

Afinal, como diz o clichê: “de boas intenções o inferno está cheio”.

Leandro Scapellato

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